Marta Freitas
Marta Freitas
A freguesia de Santa Luzia é conhecida pelas suas belas quintas, algumas foram transformadas em múltiplas habitações outras, mantiveram as suas características de raiz.
A Quinta de Santa Luzia, pertença da família Blandy há várias gerações, é exemplo de uma quinta que tem mantido os seus traços, é ainda hoje um verdadeiro pulmão da freguesia. Manteve as suas características rurais, dentro de um contexto urbano, mantendo as suas árvores centenárias; encantadores jardins (onde podemos ouvir o coaxar das rãs); a produção agrícola, com uma grande área dedicada à vinicultura, mas também hortaliças, ervas aromáticas; e a presença de animais de quinta, como as ovelhas.
Esta quinta tem vindo anualmente partilhar momentos com a sociedade civil, abrindo as suas portas para que a visitem pontualmente, na altura da Primavera. É realmente uma feliz oportunidade de conhecer tamanha riqueza natural, de conhecer quem vive na freguesia e não só. Momentos aliados à música e dança têm sido enfatizados e são realmente instantes que levam à união, entre gente que inicialmente nada têm para dizer (porque hoje não se conhece quem nas casas ao lado habita, numa sociedade que se fecha na desconfiança), mas que nos dão oportunidade para se apresentarem.
Este espaço, através de momentos de criatividade, instrumentais ou de dança tradicional, trouxe movimento, energia, cumplicidade e felicidade entre pequenos e graúdos. Relembrando décadas passadas onde as festividades limitavam-se às que eram promovidas pela paróquia, ou pelos habitantes da localidade.
Este momento na Quinta de Santa Luzia, fez-me recordar uma outra história que me foi contada pela vizinhança quando a esta freguesia cheguei. Contam que em Junho, por altura das comemorações do dia da Criança, na década de 1980, alguns vizinhos solicitavam à Junta de Freguesia e Câmara Municipal do Funchal, o encerramento da estrada e traziam as mesas para a rua, partilhavam “comes e bebes”, promoviam entre as crianças jogos tradicionais e entrega de prendinhas às mesmas. Durante anos a tradição manteve-se, e vinham vizinhos de outras ruas assistir tamanha animação.
Estas crianças foram crescendo, alguns participantes mudaram de localidade, outros infelizmente já não podem estar presentes, e a tradição foi-se esbatendo…Hoje a rua apenas tem bonitas memórias e saudades dessa familiaridade entre a vizinhança. Tal como ficaram as belas quintas, que hoje apenas são recordadas nos livros ou álbuns de fotografia.
Assim congratulo Andrew Blandy (que pessoalmente não conheço!) pela forma simpática como nos recebe anualmente, e por promover estes laços e momentos de convívio entre quem vive em Santa Luzia.