O Natal em casa da Avó

Cristina Gonçalves Silva

A casa da Avó era o lugar mais especial do mundo.

Tem sabores e cheiros únicos que, ainda hoje, nos despertam a memória e nos transportam, com nostalgia e saudade, aos tempos em que queríamos crescer depressa, tempos em que a inocência e uma alegria sem limites nos tornavam super-heróis e princesas de um conto de fadas.

A casa da Avó tem cantinhos que serão, para sempre, só nossos e recantos que conhecem os nossos medos mais secretos, que testemunharam as brincadeiras mais traquinas, que silenciaram as birras mais ruidosas e que estremeciam com gargalhadas descontroladas, próprias de uma idade em que ainda eramos perdoados por não cumprirmos, à risca, as “regras de etiqueta”.

A casa da Avó é um colo de afetos puros, que nos aconchega com uma doçura que só os Avós têm e que, ainda hoje, nos embala com uma ternura infinita.

O Natal em casa da Avó não era sinónimo de prendas caras ou “na moda”, mas o seu significado transformava-as em verdadeiros tesouros, pela pureza, pela simplicidade e pela ternura em que vinham embrulhadas.

No Natal, a casa da Avó era sinónimo de azáfama, de cheiro a pão cozido no forno a lenha, de mãos lambuzadas com o mel roubado do preparo das broas e dos bolos de mel, do cheiro intenso a cêra que “ai de nós se ousássemos pisar”, de sapatinhos a florir no terreiro para enfeitar a sala, de “cabrinhas” colhidas na serra para embelezar a lapinha e de um cansaço tão grande quanto a alegria e o orgulho que sentíamos no fim, quando tudo estava pronto para a “Festa”.
O Natal em casa da Avó não era sinónimo de prendas caras ou “na moda”, mas o seu significado transformava-as em verdadeiros tesouros, pela pureza, pela simplicidade e pela ternura em que vinham embrulhadas. Eram presentes que, verdadeiramente, materializavam o que o Natal representa: o Amor, a Partilha, a Família.

O Menino Jesus, Esse, era o centro das atenções! O seu vestido bordado e o arco que o envolvia tinham de estar intatos. A lamparina pronta para brilhar a seu lado e as searinhas para o aconchegar no seu “altar de escadinhas” colorido com laranjas, pêros pequeninos, tangerinas e alegra-campo.

Era o Nascimento de Jesus e a Família que celebrávamos.

Era, assim, o Natal em casa da minha Avó.