A mais antiga banda da Costa Norte da Madeira, a Filarmónica do Faial, comemora no próximo domingo, dia 6 de Dezembro, o 125º aniversário, tendo como ‘prenda’ um novo fardamento. Este ano, devido aos constrangimentos por causa da pandemia da Covid-19, as celebrações serão mais discretas. Cingir-se-ão ao hino à bandeira, homenagem aos antigos executantes e participação na missa dominical (11 horas) na igreja paroquial da freguesia, já com o novo fardamento que será também oficialmente apresentado em público.
Muitas das iniciativas previstas para assinalar este aniversário foram adiadas, na expectativa que possam ocorrer no próximo ano.
“Uma delas era uma deslocação até aos Açores, ilha Graciosa, que deveria ocorrer em Agosto de 2020, para diferentes actuações. Previam-se, ainda a realização de diversos concertos, pela ilha da Madeira, e a realização de um jantar comemorativo, incluindo concerto de aniversário”, mas “devido à Covid-19, estas iniciativas foram deferidas para datas mais oportunas”, revelou o presidente da direcção da Filarmónica, Manuel Luís Macedo, que é também o presidente da Junta de Freguesia do Faial.
Embora a data de aniversário seja o dia 1 de Dezembro, a data só será assinalada este domingo, dia em que “os antepassados da banda serão homenageados na missa de acção de graças, onde vão ser ainda estreados os novos fardamentos”, sublinha.
Fundada no dia 1 de Dezembro de 1895, a Filarmónica do Faial conta actualmente com cerca de 40 elementos e quase 30 aprendizes, registando ao longo do seu percurso inúmeras actuações pelas festividades um pouco por toda a ilha.
O fomento das artes musicais, formando e criando músicos, tem sido, segundo Manuel Luís Andrade, um grande objectivo.
Recorde-se que durante muitos anos, a banda foi a principal fonte de animação numa enorme faixa de território, e a única escola de música para centenas de jovens e adultos. Mudaram-se os tempos, mas a Filarmónica continua a ser uma participante assídua em festividades realizadas um pouco por toda a Ilha da Madeira, quer seja em arraiais populares, quer seja em concertos nos mais variados pontos da ilha da Madeira.
História da Filarmónica
Tal como em várias freguesias do sul da Madeira, também a do Faial fundou nos finais do século XIX a sua banda, então como Banda Filarmónica Recreio União Faialense. A fundação efetuou-se em 1895, em princípio, no dia 1 de Dezembro daquele ano. Era a primeira a ser criada em toda a costa norte da Madeira, quando nem Machico tinha, ainda, a sua.
Citam-se, entre os fundadores, Joaquim Francisco de Freitas e João Xavier de Freitas. Colaboraram, ainda, neste inicial projeto o Dr. João Albino Rodrigues de Sousa, Júlio Teixeira Marques Barcelos e Catanho e Mendonça. A banda ensaiava nos inícios do século num velho engenho da família Catanho de Meneses, ao sítio da Banda dos Moinhos.
As primeiras bandas civis e recreativas na Madeira devem ter surgido nos meados do século XIX, como a Filarmónica dos Artistas Funchalenses em 1850 e, 20 anos mais tarde, Guerrilhas como o nome indica, numa alegre e mais ou menos saudável disputa com a anterior. Um pouco por toda a Ilha, o gosto pela música e o recreio foram dando origem ao aparecimento de diversas filarmónicas que se tornaram um dos elementos fundamentais da animação dos arraiais madeirenses. Em breve, os principais adros das igrejas madeirenses e os passeios públicos passaram a ser dotados com coretos destinados às suas atuações. No Faial, e antecipando em décadas o que viria a acontecer num futuro não muito próximo, criava-se a primeira instituição do género, única nas freguesias a norte da ilha.
Assim, foram regentes desta Filarmónica os sargentos músicos Delanávio, Gualberto, João Costa, Ramiro, Ângelo, Serrão, Manuel Nascimento, João de Freitas, João Pinto e Rocha, e os professores Crisóstomo e António de Freitas. Em 1958 era presidente da Banda o Sr. Joaquim Candelária e regente, o 1o sargento músico Ulisses Teixeira.
Foram, entretanto, diretores desta coletividade os Srs. João Gonçalves, José Silva, Avelino Gomes, Álvaro Mendonça, Joaquim Candelária, Manuel Filipe, Dr. Simão entre outros.
A banda ensaiou pelos meados do século em instalações cedidas gratuitamente pela família do Dr. João Catanho de Meneses. As atuações da banda decorriam das festividades locais, embora algumas algo distantes, existindo fotografias, por exemplo, da banda no Pico Ruivo, em 1935, a caminho do arraial do Curral das Freiras, deslocação então efetuada a pé. A banda reunia-se ainda em outro tipo de festividades, com a chegada de alguns emigrantes de renome da Freguesia, como em 14 de Março de 1948, quando regressou à sua freguesia, vindo do Brasil, J.F. da Silva.
As comemorações do Centenário
Em 1895, pela celebração do primeiro centenário, a Filarmónica do Faial contava com cerca de 25 elementos e uma escola de aprendizes, com dois monitores, integrando, já, como quase todas as restantes bandas regionais, elementos masculinos e femininos. A direção, à altura, tomara posse em 1988 e era constituída pelos senhores António Carlos Candelária, como presidente, Dr. Rui Abreu, como vice, José de Nóbrega, como tesoureiro, e Arnaldo Teixeira, como presidente da assembleia geral. Era seu regente o professor João Carlos Teixeira, que assim permaneceria durante duas décadas. Esta direção desenvolveu um amplo trabalho no reativar da banda, de acordo com as suas centenárias tradições, conseguindo a mudança para sede própria, ao sítio da Igreja, numas instalações modernas, construídas para o efeito e inauguradas em 2004. A esta direção se deve a “refundação” da Filarmónica, dotando-a de escritura e estatutos públicos. A velha “Banda Filarmónica Recreio União Faialense” passa a chamar-se “Filarmónica do Faial”.
A banda deve, igualmente, ainda, a sua existência a uma série de beneméritos faialenses, já citados, como Joaquim Francisco de Freitas, um dos fundadores da banda, depois emigrante no Havai e no Brasil; o Dr. João Albino Rodrigues de Sousa, advogado da metade do século, Manuel João Teixeira, um dos diretores da banda também nos meados do século, e Joaquim Freitas Candelária Júnior (11.9.1897; 10.11.1989).
Este último incansável dirigente, a quem a Banda deve, em parte, a sua continuidade, foi alvo de uma homenagem em 18 de outubro de 1987 em que participaram para além dos atuais corpos diretivos, membros do Governo Regional, da camara municipal de Santana e da junta de freguesia do Faial. Nesta homenagem, foi apresentada uma partitura da autoria do professor Manuel Esteves, criada propositadamente em honra do maestro e posteriormente tocada no encontro de bandas madeirenses da Ribeira Brava, assim como foi instituído um prémio designado “Joaquim Candelária” destinado a estimular as bandas musicais madeirenses.
Nas comemorações dos seus 100 anos, a banda deslocou-se à ilha de São Miguel, nos Açores, para uma série de sete concertos. A Banda foi acompanhada por uma pequena comitiva constituída pelo seu presidente da assembleia geral, um representante da camara de Santana, o presidente da junta de freguesia do Faial e, ainda, o Dr. Manuel Luís de Andrade, um colaborador da Banda.
Para assinalar a efeméride foi mandada cunhar uma medalha evocativa e gravar uma Cassete/CD, do “Concerto do Centenário”.
Os 125 anos
A celebração do primeiro centenário da Filarmónica do Faial haveria de ser um enorme impulso para a sua vitalidade. Com a Presidência do Sr. António Carlos Candelária e a orientação artística do professor João Carlos Teixeira, a banda não só conseguiu as suas instalações há muito reclamadas, como deu passos importantes no seu crescimento. Em 2004 a Filarmónica instalou-se num novo edifício, construído de raiz pelo GR, dispondo de sala de ensaio geral, camaratas, e pequenas salas para formação.
Depois de mais de duas décadas de intenso trabalho nos destinos da banda, António Carlos Candelária cederia o lugar de presidente da direção, que passou, em 2010, a ser ocupado pelo atual presidente, o professor Manuel Luís Macedo de Andrade.
No campo da orientação artística, o professor João Carlos Teixeira deixaria o cargo em 2004, dando o lugar ao professor Armando Santos, que o ocuparia até 2007, quando acontece, novamente, o regresso do professor João C Teixeira. Em 2013 o Engenheiro Nuno Alexandre Nóbrega assumiria a direção artística, permanecendo até 2017. Sucedeu-lhe João Góis Correia, por um ano, cedendo o lugar a João Paulo Mendes, que permanece como maestro da Filarmónica do Faial.
No ano de 2001, a Filarmónica deslocou-se ao estádio do Jamor, para abrilhantar a final da Taça de Portugal, disputada entre o C S Marítimo e o F C Porto. No mesmo ano, efetuou uma deslocação à Venezuela, a convite dos faialenses aí residentes, tendo efetuado concertos em diversas comunidades, percorrendo várias cidades. 2011 foi ano de nova saída, desta vez a Londres, marcando presença na celebração do dia da Madeira, junto da comunidade de emigrantes oriundos do concelho de Santana e de toda a região.
O estabelecimento de protocolo de colaboração com a Escola Básica do Porto da Cruz, frequentada, à altura, por muitos alunos do Faial e a maior atenção dada à escola do primeiro ciclo do Faial, permitiu o aumento do número de aprendizes e de executantes. A disponibilização de docentes com redução e horário na escola de formação musical da banda – sob orientação do professor João Carlos Teixeira – permitiu potenciar a escola de música e o aumento dos formandos. Neste momento, ao celebrar os 125 anos, a banda está a caminho dos 50 executantes, todos formados na sua escola. Quase três dezenas de jovens frequentam a escola de música.