Sandra Araújo
Sandra Araújo
Pelo orvalho fresco das manhãs às tardes escondidas pelo nevoeiro, as gentes do Santo António da Serra contam Histórias. Histórias de boca em boca… Histórias de olhares perdidos nas serras… Histórias marcadas pelas rugas …Histórias de risos e lágrimas… Histórias de embalar…
A natureza do nome Santo António da Serra corre de boca em boca como num corridinho e eis que mais uma História surge. Lendas do planalto lá do cimo da Serra, e peregrinações para pedir ao Santo António Homem para casar, passou a ser História e Tradição.
Santo Antoninho também ajudou as gentes aquando a cheia da lagoa em 1956, e tenho para mim, que também foi inspirador e confidente aquando a guerra do ultramar, iluminando os dias e secando as lágrimas de angústia e saudade no escuro das noites.
Gentes do Santo da Serra trabalham a terra e faz dela o seu alimento, e dela colhem flores para colorir e perfumar as casas todo o ano, não sem as colocar nas cestinhas das visitas pascais e nos tapetes dedicados a Senhor Santíssimo Sacramento.
A verdade é que muitos anos passaram desde a sua criação e como por toque de magia com D. Maria passou a chamar-se Aldeia da Rainha.
Durou o tempo de uma candeia e logo voltou a chamar-se Santo António da Serra.
Daquele planalto meio escondido onde costumavam deixar o gado pastar, surgiu a aldeia que desde sempre encanta e cativa quem a visita.
Quintas escondidas por entre árvores da Laurissilva e campos verdejantes que do golfe se deixam embalar, contam tantas, tantas mas tantas Histórias que algumas tendiam a se perder com o tempo não fossem as conversas no calor das lareiras enquanto a ceia ficava preparada.
Aldeia que das quatro estações num passar de horas encanta os visitantes pelas caminhadas que dão de mão dada com a natureza.
Hoje em dia pode escolher um dos vários trilhos para visitar os segredos escondidos pelo tempo e mais antigos nas serras do Santo.
No percurso do “Alvoredo” abrigos e paredes feitos em pedra surpreendem quem por lá passa e há ainda quem queira dar um pulinho à ponte de Roma e ver pedras, pedrinhas e pedregulhos encaixados entre si e encantando quem os vê assim, numa espécie de puzzle gigante.
Por outro lado o percurso da “Casinha da Água” leva a quem o atravessa a ouvir o som da água que não pára de soar vinda da levada do norte para regar os poios trabalhados de sol a sol e pelas mãos calejadas mas agradecidas por tudo o que a terra oferece.
O Santo António da Serra é mais do que um nome… é um sentir do passado… é o viver o presente e imaginar o futuro com a calma que o tempo requer e a alma sente.
Risos ecoam lá do planalto das brincadeiras dos mais pequenos e graúdos, na chamada “Quinta da Junta”, entre jogar às escondidas, ao futebol sem bola, ao lencinho e a todos os jogos que o tempo tenta apagar, lá conseguimos ver os avós a ensinar e a relembrar os seus tempos de meninice. Aqui tem mais uma visita quase obrigatória … aos animais que por lá vagueiam e que agradecem sempre mais um miminho.
Quer esteja quentinho… quer o tempo teime em não aquecer a Sidra tem que ser degustada e apreciada, fresquinha com açúcar e casca de limão ou ligeiramente aquecida … hummmm… Sabe tão bem!
E eis que mais um dia nasce, ora acompanhado pelo sol, ora de mão dada pelo nevoeiro, mais Histórias surgirão mas jamais podemos esquecer de todas aquelas já escritas pelo tempo, espalhadas pelo vento e que duram toda uma aldeia…