Isabel Freitas
Isabel Freitas
Confesso que desde que embarquei neste desafio, tenho dado por mim a olhar para a minha freguesia de outra maneira, a reflectir sobre a mesma, a tentar encontrar algo que me desperte os sentidos e me leve a escrever umas linhas que aqui possa deixar. Aceito que pouco a conheço mas asseguro que aqui gosto de viver…no Caniço!
Durante a tarde deste sábado, enquanto estava embrenhada nas minhas confecções culinárias que tanto gosto, a preparar uma surpresa para os miúdos com umas panquecas e uns scones para o lanche, dei por mim a pensar em várias coisas, e no meio de tanto pensamento, foge-me a mente para a minha infância parando numa recordação onde oiço o sininho a tocar no interior da minha cabeça!
Saltou-me a lembrança do que era o Caniço para mim, quando era pequena. Na verdade e muito honestamente, as memórias desdobraram-se e mostraram-me que já cá vínhamos várias vezes, em especial nas datas assinaláveis e em família, para comemorarmos o aniversário da minha avó paterna ou outra data importante…
Lembro-me que na altura, aqueles convívios eram tão bons, e tal como recordo os meus familiares, também revivo os locais onde gostávamos de ir, ou melhor digo, os restaurantes que os adultos escolhiam. Era o emblemático Girassol perto da igreja; o Boieiro na estrada de cima, do qual me lembro muito bem, pois gostava imenso da singular decoração com os carros de bois; o Jardim do Sol onde hoje é o Centro de Saúde ou ainda a Charrua na antiga estrada do Aeroporto… E naquela época saíamos cedo de casa, pois o caminho ainda era longo e jamais chegaríamos depois da hora combinada ao restaurante…
Abandonando a recordação de forma rápida e olhando de volta para a massa que tinha nas mãos, um sorriso invadiu-me a cara. Algum dia, eu adivinharia ou imaginaria que quando fosse adulta, para esta freguesia viria viver?!
Com um certo sentimento de regozijo voltei a me concentrar naquela tarefa que tanto prazer me estava dar, a moldar aqueles bolinhos que iriam para o forno cozer, de modo a desfrutá-la por inteiro, focada e presente, num momento de silêncio comigo mesma. Senti-me calma, plena e feliz! Há mesmo quem diga que esta é uma forma de meditar…E há também quem refira que cozinhar é uma forma de dar amor aos outros.
Com o lanche na mesa, olhei para os miúdos e pensei como o tempo corre e muda! Há uns anos, era eu no lugar deles, e como o meu mundo era diferente. É bom recordar e constatar a diferença não me faz confusão mas por vezes prefiro não pensar na velocidade com que este mundo corre. Queria partilhar com eles aquela memória, o entusiasmo de me ter recordado daquelas vivências mas percebi que só fazia sentido para mim.
E com esse pensamento, decidi contrariar e desacelerar. Voltei ao momento presente, coloquei a comida na mesa, inclusive o creme de chocolate porque um dia não são dias e uma panqueca com creme de chocolate eleva-nos a outro patamar, senti a alegria dos meus filhos e lanchámos os três com uma enorme cumplicidade.