Paula Noite
Paula Noite
E ainda há aqueles e aquelas (e não serão poucos) que pensam que esta freguesia fica muito longe, quase no fim do mundo…
É aquele lugar onde (por decisão de alguns que não consideram obra prioritária), não há ligação via expresso, mas que na realidade fica a cerca de cinquenta minutos do Funchal e numa ilha considerada, pela quarta vez, o melhor destino da Europa, cá por estas bandas podemos (e bem!) contribuir para manter esse galardão.
A Floresta Laurissilva, considerada pela Unesco Património Mundial Natural desde 1999, cobre densamente as encostas da freguesia e é nesta floresta, com cerca de vinte milhões de anos, que existe uma biodiversidade preciosa, desde a flora (destaque para as Lauráceas, arbustos endémicos, líquenes, fetos e briófitas) até à fauna (o pombo trocaz, o bisbis, o tentilhão e diversos invertebrados).
Por entre a Laurissilva uma viagem que apela a todos os sentidos…
Destaca-se o percurso pedestre da Levada do Rei. Saindo em direcção ao Ribeiro Bonito, origem da levada, encontramos toda a família das imponentes Lauráceas; há centenas de anos já guardiões do lugar onde “o verde é tão verde, quase à beira de cegar”.
Na origem da levada e subindo mais um pouco, vislumbra-se a queda de água que cai apressada, convidando os mais aventureiros para um refrescante canyoning. E aí, podem ultrapassar os obstáculos naturais, caminhar com toda a adrenalina, saltar, fazer rappel e no fim, mergulhar nas águas límpidas e frias.
E a levada corre transportando as folhas vadias que rodopiando lá caíram. E a água vem, por vezes em turbilhão, tendo como principal missão, chegar à serra de água para que a sua força motriz a ponha a funcionar.
Serra de água que foi recuperada e única na Europa, em condições de laborar. A grande quantidade de arvoredo que consequentemente dava a madeira em abundância e a existência de água, fê-la nascer ali, no interior.
O seu mecanismo insere-se num edifício de madeira em tabuado – as costaneiras- e é coberta de zinco. As madeiras eram recolhidas na serra e transportadas para a serra de água onde era cortada em tábuas pelo serrador e enviadas depois para o mercado. O tabuado produzido era destinado à construção de edifícios e à construção naval.
A força propulsora é a água vinda na Levada do Rei, que ordeiramente é conduzida para a roda motriz e o caudal é controlado pela seteira. A água é então direccionada por um mecanismo (vertical) com tirante de ferro. A roda motriz acciona então a roda maluca, que faz deslocar o carro, onde está a madeira para ser cortada.
Esta serra de água, única, foi recuperada com fins turísticos e educacionais.
Logo abaixo, na Achadinha está o moinho a água, recuperado também. Um moinho centenário que ao longo dos anos moeu o trigo e o milho, culturas abundantes durante anos. Hoje, ainda se encontram trigais oscilando ao vento, guardados pelos espantalhos, não vão os pássaros estragar a colheita. E o Senhor Lino e a senhora Ana, às vezes lá estão para moer o trigo e o milho nos sacos empilhados, a aguardar a sua vez.
E ao estender o olhar, avistamos ainda a casa redonda, típica de São Jorge. Casa de madeira, com cobertura de colmo (quatro águas). Casas que resistem, teimosamente, a exibir a história de um povo que queremos, seja lembrada e preservada.
E entre o céu e o mar estão os miradouros. Na Beira da Quinta, aninhado na montanha está o Arco de São Jorge. Do outro lado, as Terras de Fora e a Rocha de Baixo, em São Jorge, banhada pelas ondas revoltas. Do Miradouro do Lombo do Pico e do Cabo Aéreo, avistamos o Calhau, as curvas sinuosas do Caminho Real n.º 23 e a Ribeira de São Jorge, correndo preguiçosamente formando na sua foz a lagoa de água doce, separada do mar pelas rochas cor de cinza.
No Farrobo, podemos avistar do Miradouro da Vigia, toda a costa norte e ao longe, os contornos escuros do Porto Santo, que por detrás do Farol (guia da navegação marítima) se erguem orgulhosamente.
Lá em baixo, a Ponta de São Jorge, integrada na Reserva Natural da Rocha do Navio, escreve também páginas da nossa história.
Outrora local de embarque e desembarque, hoje é um dos locais mais visitados da freguesia. Naturais e turistas procuram este local pela sua rara beleza: a paisagem estende-se do Porto Moniz à Ponta de São Lourenço. Ao longo da vereda, espécies endémicas da nossa flora podem ser avistadas e sob as águas transparentes e entre os rochedos escuros, deslizam os bodiões, as ceifias, os pargos, os sargos dando ainda mais vida e cor a este lugar mágico.
São Jorge tem… motivos para que um olhar mais atento conclua que há algo mais a fazer num local cuja natalidade decresceu tanto…
São Jorge tem … jovens que querem ficar, mas que partem por falta de incentivos que permitam a sua fixação à terra que os viu nascer.
São Jorge tem…. necessidade de investimento na recuperação de alguns acessos pedestres, nomeadamente o Caminho Real nº 23 e o acesso ao cais natural.
São Jorge tem… condições para investimento no sector turístico.
São Jorge tem… esperança no futuro!