Miguel Fonseca
Miguel Fonseca
Quantas vezes já me perdi na densa floresta de Joyce sempre que me aventei na insana tarefa de seguir o rumo de Bloom pelas ruas de Dublin como naquele dia 16 de Junho de 1904? Tantas que, sempre que tentei, tive de recuar centenas de páginas e a verdade é que, ao contrário de Ulisses, nunca cheguei a Ítaca, “c’est-a-dire”, ainda não acabei a leitura que comecei a empreender há anos.
Afinal, é como procurar o fio à meada da cultura ocidental, mesmo que ela se entrelace, essencialmente, entre dois novelos – de lã, não estou a falar das hortênsias, novelões, hidrângeas ou hidranjas que ladeiam os nossos caminhos, sobretudo nas Queimadas de Santana, e que eu tenho em casa em vasos – que nascem em Israel, um, e na Grécia, outro – vertidos, aliás, no nome da personagem de Joyce, Ulisses, nome que escolheu para dar ao judeu que é o herói do romance, justamente para fazer confluir os dois veios, greco-latino, em Ulisses, judaico-cristão, na naturalidade da personagem.
Mas o que é que isto tem a ver com uma crónica que tem como base a freguesia? Nada, dizem vocês. E eu também!
Mas, afinal, de que é que estavam à espera, que eu viesse para aqui falar da adufa – por acaso é tema de uma próxima crónica, uma concreta e definida logo ao pé da minha porta – ou do buraco da rua? Ora, ora, para dar razão ao antigo presidente sabe-se lá se próximo candidato à Quinta Vigia que chamava a Oposição assim mesmo do buraco na rua e da adufa no beco!
E vai ser sempre assim, não estou para vos pôr a perder tempo e daqui não levarem nada senão as minhas preocupações com o muro que cai, a rua que não tem linha e essas coisas das freguesias, que são as raízes profundas do Estado Democrático e afinal sempre tem a ver e ninguém devia de chegar ao poder no Estado Regional nem ao Estado Central sem ter sido autarca e é por isso que o outro está em São Bento e este já faz balanço para a Quinta Vigia e não pensem que me estou a fazer ao piso porque se há coisas que eu detesto é estar do lado do poder, praticamente sou anarca como todo o bom espanhol de esquerda – como todo o bom espanhol, estou a falar da condição de anarca, não da condição da nacionalidade, claro – e digo – se hay gobierno, soy contra! – mas a verdade é que estava eu a tentar perceber os passos do Leopold Bloom na antiga Estrada Nova do Aeroporto na zona entre a Assomada e o Caniço e para aceder à via rápida através da entrada logo após ao Village Pub – inaugurada pelo Miguel Albuquerque – dizem que o rapaz vai-se ver aflito na recandidatura, bem haja, olha, se é assim, até pode vir a ter a minha solidariedade, perante a jactância que por aí vai -, eu vinha no lugar do morto – que, por acaso, era a alcunha que tinha em pequeno, «o morto», que me pôs a minha irmã mais velha quando eu era pequeno, porque era o diabo para ela, coitada, me vestir a roupa, com os braços caídos como uma mazanza – e lá tivemos, quem conduzia o carro, evidentemente, de entrar num desvio feito para paragem de autocarro para então poder entrar na entrada para o centro da freguesia, da vila, da cidade – da cidade!
Imaginem, de manhã, à hora de ponta, entrar na paragem, que tem lugar para 3 ou 4 ligeiros, e mais um ou dois e fica na mesma o trânsito interrompido para quem vem do lado de Santra Cruz e quer seguir em frente, porque quem entre no desvão ou desvio da paragem tem de estar atento a quem vem da esquerda e da direita e não vai para o centro, mas para a cidade – do Funchal e de Santa Cruz – a Madeira transformou-se, toda ela, uma grande metrópole, e então e o campo? – que saudades do tempo em que era tudo campo! – então não seria melhor pôr ali um semáforo como “tem” nas Figueirinhas, para evitar acidentes como é frequente? – quem é que vai pôr? Sei lá! Não me interessa quem – se a freguesia, a câmara ou o Governo – sei é que era a melhor forma de acabar o verdadeiro “Doomsday” em que aquilo se transforma em hora de ponta, que pode ser logo às 7 da manhã, que entro nas aulas às oito e ainda me falta a via rápida.
Tomando o fio à meada, a propósito de “Doomsday”, dia do Juízo Final, o dia 16 de Junho passou a ser considerado o “Bloomsday” pelos fãs de Joyce. Tinha ainda aqui mais qualquer coisa para dizer, mas agora perdi-me.