Cristina Gonçalves Silva
Cristina Gonçalves Silva
Temos assistido, nos últimos tempos, a um cada vez mais crescente número de emigrantes que regressam da Venezuela.
Um regresso que se anuncia definitivo, face à crise que o país vem atravessando e que não manifesta sinais de retrocesso.
Ao invés, uma crise que se agudiza, dia após dia, e que vem diminuindo a réstia de esperança que alguns emigrantes e suas famílias ainda guardam.
A maioria dos emigrantes regressa, agora, com semblantes preocupados, bem diferentes daqueles que apresentavam, aquando das visitas à Madeira, no Verão e noutras épocas festivas.
Compreende-se a razão dessa mudança, pois, para trás, deixam o resultado de anos de trabalho e suas famílias, muitas delas, compostas por filhos e netos nascidos numa Venezuela diferente, numa terra que os acolheu, alegre, próspera, uma terra de oportunidades, que fazia imaginar um futuro melhor, um futuro que, dificilmente, a terra natal poderia proporcionar.
Por ironia, é essa mesma terra que os desampara, agora, que os força a um regresso antecipado e muito diferente daquele com que sonharam, quando partiram em busca de uma vida melhor.
Esse sonho incluiria, decerto, regressar à terra onde nasceram, para viverem a velhice, de forma serena e com o conforto conquistado ao longo de vários anos de trabalho, sacrifícios e privações, longe de casa e dos seus… uma velhice vivida com um sentimento de dever cumprido, na certeza de que valeu a pena ter deixado a família, ainda mais, quando sabiam que seria difícil regressar em breve e que a única forma de se corresponderem seria, para a maioria, através das cartas enviadas “de longe a longe”.
Para muitos, o futuro tão aguardado deu lugar a um presente angustiado, que aguarda ansiosamente por noticias mais animadoras, para que o coração e o pensamento que deixaram junto das suas famílias – que heroicamente resistem e acreditam que dias melhores virão – possa finalmente acalmar-se.
São esses resistentes que, ancorados na esperança da mudança e amor pelo pais que os viu nascer e os vê lutar pelo futuro dos seus filhos, travam uma luta diária contra a fome, a injustiça, a desigualdade e a repressão, acreditando que um qualquer milagre irá mudar o rumo dos acontecimentos, para que a Venezuela possa voltar a ser Su Patria Querida!