Gonçalo Jardim
Gonçalo Jardim
O futebol é um dos desportos mais populares do mundo. Este aliciante desporto pode jogar-se em qualquer lugar bastando ter uma bola, umas traves e… pessoas!
Além de ser um excelente promotor da saúde física, é também um enorme facilitador de encontros sociais.
Sou apreciador confesso deste jogo! Este gosto foi adquirido quando, em bem novo, naqueles sábados à tarde ou domingos de manhã, acompanhava o meu pai naqueles campos de terra batida que havia por Santo António.
Reuniam-se um grupo de amigos, habitualmente por sítios, para jogar uma futebolada com regras próprias. Via que viviam aquele momento como o momento da semana. Nessa altura, as conquistas adquiridas em cada jogo eram mote de conversa semanal. Estes encontros serviam também para fugir às situações sociais dramáticas que alguns encontravam diariamente. Estes encontros não eram mais do que meros e importantes “muros” de protecção, de refúgio, de fuga. Até poderia haver um copo de vinho ou uma cerveja após estes encontros, mas havia uma ligação com a terra que hoje procura-se.
Lembro-me do campo de terra batida que havia nas Courelas. As corridas atrás da bola envoltas de terra poeirenta fixaram-se na minha humilde memória. A imagem que fica deslumbra-me ainda: tarde de sol quente com a bola a rolar e a levantar terra.
Havia outro campo logo abaixo da Paróquia da Graça. E tenho a certeza que havia outros! Poderia ser em qualquer lugar desde que houvesse bola. As equipas formavam-se por sítios como o Barreira, a Graça, o Pico do Cardo, o Jamboto, o Trapiche, entre outros, e criavam uma espécie de campeonato. Esse pseudo-campeonato… desapareceu!
O meu pai trabalhava na Casa de Saúde São João de Deus. Lá, num saudável contacto com a comunidade, a instituição proporcionava momentos terapêuticos e de lazer com um belíssimo jogo de futebol num campo empedrado. Alguns desses jogos acabavam com feridas escoriativas mas nada demovia a vontade do encontro. Reuniam os doentes, os empregados e alguns locais para um autêntico convívio salutar de elevado valor afectivo.
Hoje, eu trabalho na Casa de Saúde. Alguns funcionários (a maioria), são moradores das zonas altas de Santo António. Pelo menos uma vez por semana, proporciono uma futebolada com eles e com utentes que lá fazem tratamento. São momentos importantes para os utentes, para estes funcionários e para mim. Em jeito de “dejà vu”, revivo estes momentos que foram importante outrora para o meu pai e são, actualmente, importantes para mim. Entendo agora, a necessidade de contacto com os outros utilizando o futebol como meio.
Os meus amigos, que hoje jogam futebol comigo na Casa de Saúde, reclamam! Eu reclamo. Não encontro mais aqueles campos de terra batida que reuniam pessoas. Aliás, não encontro nenhum lugar, em Santo António, onde possa reunir um grupo de amigos para jogar futebol. Sei que há o Pavilhão dos Trabalhadores, e que, para poder usufruir, terei de reservar e… pagar! No Clube de Futebol do Andorinha, há campos de futebol que se encontram legitimamente reservados para escolas e clubes amadores e profissionais. De resto, não sei onde jogar futebol…
Gostaria de recriar os jogos que, outrora, foram importantes meios de promoção social e de saúde.