Sónia Perneta
Sónia Perneta
Santo António, a minha freguesia, a do Cristiano Ronaldo e de muitos outros.
Em tom de desafio e por ter achado uma excelente ideia a criação do Diário das Freguesias pelo Diário de Notícias, propus-me como correspondente da minha freguesia. Uma oportunidade de divulgar Santo António, pelo que aqui se faz, se cria e se realiza. Uma oportunidade de dar a conhecer a freguesia onde nasci, cresci e decidi que futuro queria para mim.
Actualmente é conhecida por ser a freguesia onde nasceu Cristiano Ronaldo mas prefiro referir-me a Santo António como uma freguesia que, como canta o nosso hino, vai do “vale à montanha” e quase que “do mar à serra”.
A mais populosa da ilha, com cerca de 28.000 habitantes, gentilmente distribuídos por uma área de 22,17 km². Temos por ‘vizinhos’ as freguesias de São Roque, São Pedro, São Martinho, Curral das Freiras e Câmara de Lobos. Reza a história que teve a sua fundação em 1566, ao mesmo tempo que a freguesia de São Pedro, tendo ambas sido separadas da Sé neste ano.
Não consigo falar da minha freguesia sem descrever o que mais me encanta. As vistas que daqui alcançamos. De São Gonçalo ao Rochão, em Câmara de Lobos, a Choupana ao longe e a imagem de Nossa Senhora do Terreiro da Luta que de cá de baixo parece tão pequenina. Sem nunca esquecer o famoso Pico dos Barcelos com a sua fantástica vista. Indescritível pela sua beleza e imensidão e de onde é possível vislumbrar todo o vale que circunda o Funchal.
A Igreja de Santo António é também um atractivo. A Igreja foi construída no local onde anteriormente existia uma capela do séc. XIV com orago a Santo António. O início da construção data de 1783 e foi um processo moroso. Cresceu à medida das necessidades do crescimento da população da freguesia. As duas imponentes torres foram construídas 1880 mas não apresentavam a solidez necessária. Em 1921 iniciaram-se na Igreja obras de melhoramento, das quais se destacam a reconstrução das torres e a colocação do relógio.
O tecto minuciosamente pintado, as capelas, o seu altar majestoso e o grande Santo António que, apesar de raramente sair do seu altar, continuam a inspirar devoção de toda a população. Do lado contrário à Igreja deparamo-nos com um antigo miradouro onde se encontra o busto do Padre Fernando Augusto da Silva, historiador e sacerdote na paróquia de Santo António entre 1908 e 1930. A ele deve-se a pesquisa e divulgação histórica da freguesia de Santo António, resultando numa obra intitulada “A Freguesia de Santo António”.
Costumo dizer que sou privilegiada, que tive uma infância feliz. O meu “quintal”, o meu espaço de brincadeira chegava aos Álamos, Igreja de Santo António, Pico dos Barcelos e Madalenas. Correndo por entre becos, fazendas e outros atalhos, as brincadeiras inofensivas eram criadas em espaços que nos desafiavam. Construir cabanas no arvoredo que existia na encosta do Pico dos Barcelos, percorrer terrenos vizinhos até chegar à ribeira para ver os pequeninos girinos e apanhar os sapos. Lembro-me ainda do antigo campo de futebol de terra batida, junto à ribeira onde os mais novos desafiavam o futuro “na bola” de pés descalços.
Brincadeiras de crianças que podiam andar pelas ruas, usufruindo dos jogos que os nossos pais faziam e inventando alguns. Posso dizer que sou do tempo em que conhecíamos todos os vizinhos e todos eles nos conheciam e protegiam. Brincadeiras e lembranças que me fizeram crescer e das quais quando me recordo é sempre com um sorriso de orelha a orelha.
Assim é a minha freguesia. Assim descrevo Santo António como a minha casa, o meu lar.