E vão já 107 anos de muita vida. O aniversariante é José Martins, natural e residente na Vila do Caniçal onde nasceu a 7 de Março no longínquo ano de 1912.
Com apenas 4 anos ficou órfão de pai. No longo percurso de vida, nos tempos da juventude, chegou a ‘emigrar’ para o Funchal para trabalhar como empregado doméstico no Funchal na casa dos pais do histórico Zeca Cunha, vencedor do Rali Vinho Madeira, em 1965.
Chegou também a trabalhar para o Dr. João Abel de Freitas. Inclusive a ajudar o conceituado médico nas ‘operações’ que então fazia no outrora Centro de Saúde Vila Guida. Ainda guarda como se fosse um tesouro a carta de recomendação datada de 1938 e assinada pelo então presidente da Junta Geral do Funchal, que enaltece as qualidades de José Martins, homem “fiel, bom trabalhador e cumpridor dos seus deveres”.
Regressou ao seu Caniçal no início da década de 40, mas antes ainda chegou a trabalhar na construção do novo edifício do Liceu Jaime Moniz.
Casou em 1941 (29 anos) e ficou viúvo em 1994 (82 anos). Foi pai de 6 filhos, avó de mais de dezena e meia de netos e bisavó de outros tantos bisnetos, e é também trisavó de 2 trinetos.
Dois dos seis filhos deste resistente caniçalense já faleceram. O mesmo em relação aos oito irmãos de José Martins. Mas com a particularidade de todos estes Martins terem vivido mais de 90 anos, sendo que um dos irmãos chegou também a ultrapassar um século de vida (morreu com 103 anos).
Nado e criado em terra de pescadores, José Martins também experimentou as lides do mar, mas a aventura como pescador durou pouco tempo. Ao contrário dos filhos, que cumpriram serviço militar e foram enviados para o Ultramar, o ancião centenário escapou à tropa, tirando partido da influência das famílias a quem prestou serviço quando tinha idade para se alistar.
A meados do século passado estabeleceu-se em definitivo no Caniçal, onde continua a residir na sua humilde casa, nas proximidades do centro da freguesia.
Nesse tempo trabalhou na empresa baleeira que então prosperava no extremo Leste da Madeira.
Entretanto viria a ser vítima de dois acidentes de trabalho. No primeiro queimou-se nas pernas. Esteve três meses hospitalizado. No segundo, já à beira de completar 60 anos, sofreu uma grave lesão numa mão. A estes dois contratempos, acresce uma hérnia no histórico dos casos de saúde.
Apesar de carregar o peso de mais de um século de vida, José Martins continua a evidenciar uma invejável frescura física e uma invulgar lucidez. Além de não usar óculos nem se queixar de falta de vista, continua a ser dono de quase toda a dentição. Aliás, facto revelante foi ter extraído o primeiro dente quando já era cidadão centenário.
Eis o resumido retrato de José Martins, que aos 107 anos de idade, além de continuar a andar pelo próprio pé, mantém-se de olhar vivo e voz firme.