Isabel Cristina Camacho
Isabel Cristina Camacho
Reza a lenda, que há muitos, muitos anos havia uma velha senhora, abastada, lá para as bandas do Campanário que possuía muitas terras cultivadas.
Era grande a sua produção e para ela trabalhavam muitas pessoas. Contudo a velha tinha um problema: a escassez da água para regar as suas ricas terras.
Ora soube, a dita senhora, que numa freguesia não muito distante existia uma verdadeira riqueza de água, que pelas suas belas montanhas escorriam córregos e cascatas. Que das fendas das rochas mais íngremes brotavam nascentes de água fresca e cristalina.
Então, como a necessidade aguça o engenho, a velha resolveu empreender uma obra sem precedentes. Iria construir uma levada que levasse a água desde os lugares mais recônditos do Norte do Curral das Freiras, até às suas terras, no Campanário!
Segundo esta lenda, a rica senhora não conseguiu realizar o seu sonho. Uma vez pronta a levada, em vez de agradecer a Deus, apenas disse:
“Levada, minha levada/Levada que aqui me tens/Oh minha pipa de patacas/Oh meu quarto de vinténs”
E lá caiu a levada, como castigo, pela ingratidão da dona que não soube dar graças.
Ora então por estes dias voltou à baila a lenda da levada da velha. É que desde outros tempos a nossa rica água sempre foi cobiçada e aproveitada por uns e por outros.
Que o diga a Prima Maria, que um destes dias, depois de andar de “sarril avergado” quase todo o dia a mondar os castanheiros, (que é preciso estarem limpos que aí vem a grandiosa Festa da Castanha) vinha de goela seca e quando vai abrir a torneira do fontenário, onde sempre bebera, só caíram umas magras gotas que mal deram para a prima molhar a língua.
“Será que a velha do Campanário tornou à vida? Cá nada! Esta agora é bem pior!”
E a pobre mulher lá foi praguejando, para desabafar as suas mágoas:
“Tosca marrosca! Numa terra de tanta fartura de água, andar o povo à míngua! Tá mal injusto! E então a taxa que se paga…que a leve o diabo!”
E continuou a prima Maria, com as suas lamentações, “Não basta esta desgraça, senão quando cheguei ao pé do castanheiro , uns meninos da cidade, a ajuntar as castanhas, como se as que estão no chão, não tivessem dono. Valha-me Deus nosso Senhor, que tudo se aproveita do povo!”
A prima estava mesmo a desatinar com toda aquela situação e a sede a turvar-lhe a vista.
Ao que parece as torneiras dos fontenários públicos foram fechadas, quase totalmente, não fosse o povo esbanjar o bem precioso, que afinal, segundo o slogan, a água não cai do céu, tem de ser aproveitada e neste caso, muito proveitosa!
E assim se repete a História, que nada tem a ver com a lenda, mas que a exploração é do arco da velha, ninguém duvida e ao que parece, valerá uma boa “pipa de patacas”!