Jorge Santos
Jorge Santos
Serra de Água é uma freguesia com 342 anos, cerca de 1049 habitantes (censos 2011), 24,7 Km2 e situa-se ao longo de um dos vales mais bonitos que conheço. Estende-se desde a meia-légua até a Encumeada, entre enormes montanhas como o pico grande e uma paisagem única e ímpar.
Seu nome deriva, ao contrário do que muitos pensam, não da abundância de água nas suas serras (que também é um facto) mas do nome dos engenhos utilizados pelos nossos antepassados para transformar os enormes troncos de madeira em tabuado – Serras movidas pela água. Engenhos esses que, hoje em dia, já não existem na freguesia.
E a nossa história começa precisamente na altura em que se iniciou a desflorestação desta zona e que, segundo dados escritos, a sua vegetação era tão densa que a entrada pelo vale a cima durou anos e anos. Conforme foram avançando ao longo da ribeira, foram-se fixando algumas pessoas, pessoas essas, muitas das quais trabalhavam no ramo da transformação da madeira.
Daí que a nossa população se encontra ao longo da ribeira e na parte central e de menor declive, então já mais afastada da mesma.
Ao mesmo tempo que se cortavam as árvores, foi-se preparando a terra para a agricultura e, nesse aspecto, foi necessário um trabalho árduo e moroso para construir as “engenhosas” paredes em pedra para segurar as terras nas zonas de maior declive, ao qual chamamos de “Poios” e uma extensa rede de levadas para trazer a água às colheitas. Hoje em dia, essas obras ainda são facilmente visíveis nas nossas encostas, embora ao abandono.
Depois da transformação da madeira e até o século passado, a agricultura e a criação de gado, foi o principal sector de actividade dos nossos antepassados. Na agricultura, destaca-se entre outros produtos, a batata, o trigo e o centeio. No gado, o bovino, as ovelhas e as cabras.
Durante o século passado destaca-se ainda o artesanato, os trabalhos em vimes e o bordado. Estes últimos quase inexistentes de momento, contudo o artesanato ainda é uma realidade embora numa pequena expressão no número de artesãos existentes. Assim como a produção de castanha e da noz que, de momento, é quase inexistente.
Nos finais do século passado e até ao momento, o sector secundário foi ganhando algum peso na actividade económica desta zona, sendo a construção civil, a hotelaria, a restauração e os bares as que mais geram empregos.
E, por falar em bares – A PONCHA.
Sim, falar da Serra de Água é obrigatório falar da “Poncha”.
A Poncha não é originária desta zona, mas nos últimos anos ganhou uma aliança à nossa terra e já é uma marca, uma identidade, e, a nossa “MOSTRA DA PONCHA E DO MEL”, já é um cartaz que leva a nossa freguesia além fronteiras.
E como disse, Serra de Água não é só poncha e o Mel é um exemplo disso. O Mel teve nos últimos um aumento significativo na produção que também caminha para esse patamar.
Mas há mais.
Serra de Água é uma freguesia com imensos locais de interesse histórico e turístico. Neste campo, destaco a Igreja Matriz, a Central Hidroeléctrica, o Caminho Real da Encumeada, a Pedra Vermelha, as Arcadas do Moinho Velho, a levada do norte e uma enorme e imensa variedade de miradouros, veredas e trilhos que fazem deliciar os olhos e o coração.
Na área cultural e fruto do enorme trabalho das instituições locais que “teimam” em não deixar morrer as suas tradições destaco: o Espírito Santo na Encumeada, o Cantar dos Reis, os Jogos Tradicionais, os carrinhos de Pau, os cantares populares, entre outros.
Por último e não menos importante, a nossa Padroeira e as nossas gentes.
A nossa padroeira – Nossa Senhora da Ajuda. Esta festa religiosa celebra-se a 15 de Agosto e para todos nós e até para muitos emigrantes é sempre um momento especial.
E é um momento especial, por ser a quem sempre recorremos nos momentos mais difíceis. E na nossa história, muitos foram esses momentos e sempre, mas sempre, a freguesia teve as forças necessária para se erguer e ultrapassar esses momentos.
As nossas gentes, gentes que conheço bem. Estas são pessoas humildes, acolhedoras, trabalhadoras e acima de tudo, lutadoras.
Por estas e outras razões, aconselho-vos uma visita a este lindo vale e, é claro, antes de ir beba uma poncha.
Um bem hajam aos que nos visitam.